Mística dos Eleitos

Aos poucos foram caindo como peças de dominó.
As intrigas palacianas, os desafetos,
a inveja de muitos, as armadilhas dos outros
derrubaram um a um.

Acreditavam que ainda serviam.
Acreditavam que ainda tinham voz.
Acreditavam que ainda eram um grupo.
Acreditavam, acreditavam e acreditavam.
Era o que faziam com muita propriedade.

Pensavam que as turbulências eram passageiras,
que as não-conformidades eram temporárias,
que tudo em algum instante voltaria ao seu eixo original.

Diziam, para si mesmos, que na construção de um ideal sacrifícios eram necessários.
Em nome de uma causa maior as baixas que ocorrem são aceitáveis.
Para tudo que acontecia existia uma explicação razoável, lógica e fundamentada.

Participaram de tudo.
Colaboraram com muita coisa.
Partilharam entre si muitos segredos.
Acumularam no decorrer do tempo muitas histórias.
Foram testemunhas oculares de muitos fatos
e protagonistas ou coadjuvantes de outros tantos.

Seus olhos se fechavam para não enxergar os erros.
Seus ouvidos surdos a tudo que podia vir a macular os seus ideais.
Da suas bocas quando necessário jorravam palavras de ataque aos inimigos e de elogios e incentivo aos que acatavam a verdade que lhes era comum.

Sobre eles não havia meio termo.
Amados, temidos e respeitados.
Afinal, a turba enxergava neles o reflexo fiel dos raios do sol.

Servos incondicionais.
Eleitos da primeira-hora.
Guarda pretoriana.
Tropa de elite.
Escudo de defesa.
Guerreiros incontestes.
Circulo interno.
Amigos, companheiros e irmãos.

Como arautos, porta-vozes e ministros
eram os que desfraldavam e ficavam a bandeira.
Ditavam o ritmo do tambor de guerra.
Direcionavam os tempos e movimentos da causa.
Serviam de juízes, promotores e advogados de defesa,
como também de executores fiéis da lei.

A tempestade os engolfou.
O sibilar das serpentes os encantou.
O veneno das cobras lhes adoeceram.
Vitimizaram-se não como grupo, mas cada um por sua história particular.

Uns se renderam as psicoses, neuroses, estresses e traumas 
adquiridos e desenvolvidos com o passar do tempo.
Outros simplesmente esquecidos, abandonados e rejeitados.
Muitos ainda, nem perceberam que estão relegados ao segundo plano, sem notar que são apenas elementos de figuração ou objetos de cena.

Eleitos da primeira-hora não perceberam
o quanto perto estavam do abismo.
Que a escuridão os engolia para cuspi-los de Maya 
de volta ao deserto do real de suas vidas profanas.
No fragor das batalhas travadas não se atentaram 
para o perigo do caos que a revolução lunar poderia gerar de si.

Esqueceram que os eleitos servem a um ciclo.
Ciclo morto, eleitos postos!
Cada ciclo tem os eleitos que merecem.
No império, a saudação sempre é a mesma:
"Ave César! Os que vão morrer te saúdam!"
Quem ainda vive no ciclo passado, mais cedo ou mais tarde sofrerá a sentença dos polegares para baixo.

Para alguns já vão tarde.
Para outros foram vítimas da lei do retorno.
Seus traços serão apagados.
Suas colaborações rapidamente esquecidas.
Suas histórias distorcidas.

Aos seu iguais, seus pares de sempre, 
a certeza que quando a vida eterna em sua espiral ascendente os devolver ao mesmo ponto um nível acima, será uma satisfação muito grande esse reencontro e uma honra estarem ombro a ombro em uma outra batalha todos juntos novamente.

Comentários

Ayom Records disse…
Que possamos lutar novamente a boa batalha, Caio. Sem defender o ego e a loucura de ninguém, desta vez, somente pela vontade de ajudarmos quem precisa em nome de um astral que ainda está na terra, em poucos lugares, e que deixou o olimpo, já faz um bom tempo. Um abraço deste seu irmão de eternidade, Obashanan.
dhereid disse…
Não deixe de postar seus textos, Caio! :) Axé!

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