O simples e o óbvio ululante na Umbanda!
A vida é simples ou pelo menos deveria ser!
De fato a complexidade do viver é oriunda da dificuldade que nós mesmos sobrepomos a simplicidade natural do nosso dia-a-dia.
Nas listas de discussão na internet o saudoso Painn (Flavio Odoniré), Babalorixá do Omolocô em Campinas/SP (já falecido), não cansava de repetir a frase: "A Umbanda é simples", ou "Simplesmente Umbanda".
De fato, acredito que a Umbanda é simples, objetiva e clara. Nós umbandistas é que complicamos.
Vivemos arraigados a muitas situações atávicas e aprisionados por uma estaticidade renitente, geramos muitas discussões e debates, nos debruçamos em teorias as mais diversas, polemizamos e ficamos perdidos, emaranhados em contendas tipo: o que é e o que não é Umbanda.
Entretanto, o movimento umbandista vive um momento rico em sua história por sua capacidade de gerar, cada vez mais, espaços de vivência, estudos e pesquisas, e por conseguir fomentar o diálogo intra-religioso. A despeito de não ser unanimidade este meu pensamento, os espaços nem sempre serem reconhecidos como válidos e o diálogo muitas vezes passar ao largo da convivência pacífica e da produção de frutos construtivos para a religião; é fato que a academia, as escolas, a literatura umbandista, as instituições, os cursos, os fóruns de discussão e os movimentos de inclusão social e cidadania exercem um papel de relevância para a Umbanda. Isto agora, no passado e sempre. Vale a pena contextualizarmos cada um desses fatores, levando-se em consideração que trata-se da minha visão particular.
Entretanto, o movimento umbandista vive um momento rico em sua história por sua capacidade de gerar, cada vez mais, espaços de vivência, estudos e pesquisas, e por conseguir fomentar o diálogo intra-religioso. A despeito de não ser unanimidade este meu pensamento, os espaços nem sempre serem reconhecidos como válidos e o diálogo muitas vezes passar ao largo da convivência pacífica e da produção de frutos construtivos para a religião; é fato que a academia, as escolas, a literatura umbandista, as instituições, os cursos, os fóruns de discussão e os movimentos de inclusão social e cidadania exercem um papel de relevância para a Umbanda. Isto agora, no passado e sempre. Vale a pena contextualizarmos cada um desses fatores, levando-se em consideração que trata-se da minha visão particular.
1) Academia - repetitivo da minha parte, mas necessário ante a falta de percepção de alguns em não conseguirem perceber o que a existência da F.T.U - Faculdade de Teologia Umbandista representa para nossa religião. O equilíbrio acadêmico, frente as demais religiões que possuem faculdades de teologia, por si só, já é motivo para celebrarmos essa conquista. Mais do que isso, a proposta intrínseca de aproximar o saber acadêmico, o saber religioso e popular tradicional revela a preocupação de instrumentalizar o teólogo, com estudos e pesquisas, educação, conhecimento e cultura de qualidade para que ele possa exercer o seu papel na sociedade, com o mesmo respaldo dos demais pares das outras religiões. Fora isso, a F.T.U. através de seus pontos de contato com a coletividade umbandista ou não, colabora efetivamente para expurgar do seio de nossa religião e da visão de alguns setores da sociedade, os efeitos ainda existentes, do preconceito, da discriminação, do misticismo e do sobrenatural racionalizando e decodificando a teoria e práxis umbandista através do que lhe é próprio, a natureza acadêmica, ou seja, a linguagem e o conhecimento seja ele teológico, filosófico, científico e artístico.
2) Escola - como disse recentemente, o conceito de Escola no movimento umbandista, continua sendo mal compreendido, sendo muitas vezes taxado de uma visão elitista e que corresponde a propugnação exclusiva de um grupo particular, um autor ou indivíduo. O conceito Escola é uma conclusão natural que surge de uma observação do universo umbandista. Corroboro com o que ensina Pai Rivas (médico, escritor, sacerdote umbandista, fundador da F.TU. e dirigente maior da O.I.C.D. - Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino) "Se a Umbanda é uma idéia, as Escolas são as diferentes linguagens, os diferentes ângulos de interpretação dessa idéia", evidentemente que por dentro e não por fora da Umbanda. Haja visto, a proliferação de interpretações oriundas de outras religiões ou doutrinas, que tentam explicar a Umbanda inseridas no contexto delas ou adequando-a as suas visões, conceitos, seu corpo de princípios e ensinamentos. Para ficarmos no exemplo, basta lembrarmos o que alguns setores da doutrina espírita tem gerado de literatura sobre a Umbanda, inclusive criando centros híbridos. O fato é que o conceito de escola, independente do nome que se deseje chamar, é a representação macro de um conjunto de micro-setores umbandistas que por aproximação ou semelhança de seus ritos, liturgia, tradição, conceitos e ensinamentos configuram uma linguagem e ângulo de interpretação da Umbanda percepitível por sua relevância, significação e identificação.
3) Literatura umbandista - sempre existiu e está cada vez mais produtiva, com editoras abrindo cada vez mais espaço aos autores de nossa religião. De obras básicas as eruditas, de livros doutrinários a teses acadêmicas, de estudos e pesquisas a romances é notório o trabalho de divulgação e a busca pelo conhecimento da religião, que a literatura umbandistas tem produzido. Cabe ao leitor, no entanto, o trabalho diante de tanta oferta, abstrair da leitura das obras o que lhe for coerente, servir melhor ao seu entendimento e permitir a formação de um conhecimento teórico racional, que se consubstancie em uma prática lícita, benéfica e ética para si e para os outros. É claro, que cada autor reproduz em sua obra, seja de forma direta ou indireta, o resultado da sua vivência, dos conhecimentos adquiridos, da Escola a qual faz parte, de sua visão particular sobre a religião etc. Também considero normal a mudança de opinião, a apresentação de desdobramentos outros, diferentes dos que já foram ratificados, a evolução das visões e a revisão de conceitos, posto que o aprendizado não é estático e definitivo, conseqüência direta da relatividade em que estamos inseridos nesse universo em constante transformação.
4) Instituições - Federações, Confederações, Associações, Uniões, Conselhos, Institutos e assemelhados devem estar sempre restritas a suas funções e objetivos primordiais que são, entre outros, de representar a coletividade umbandista no seio da sociedade, apresentando soluções viáveis aos seus anseios, expectativas e necessidades, garantindo-lhes o apoio legal, formal ou informal, ao direito de existência, ao pleno exercício da liberdade religiosa, contra a intolerância, a discriminação e o preconceito, franqueando a inclusão social e promovendo a formação cidadã dos umbandistas. Jamais devem dermarcar doutrina se rendendo aos interesses de um grupo ou indivíduo obnubilados pela vã ilusão de codificação. Jamais com intuito "politiqueiro" e eleitoreiro, fornecendo palanque para alpinistas políticos e nem tão pouco se rendendo a mercantilização de "favores", de títulos e cargos hierárquicos, de auferir lucros com as coisas da religião e apoiar ou legalizar quem os façam.
5) Cursos - de formação sacerdotal, mediúnico, de doutrina, magia e correlatos devem ser circunscritos ao interior dos templos de Umbanda, ministrados pelos seus dirigentes e voltado apenas para os filhos espirituais da casa. Para o público, a sociedade em geral, somente os cursos que denomino de cultura umbandista, ou seja, os que habilitam as pessoas (visitantes, simpatizantes e o público não-umbandista) a entenderem o básico, do que é visível a eles no contato com a religião. O objetivo deve estar restrito então, a busca de decodificar a simbologia, de nossos ritos e liturgias externas, fazendo sempre um contra-ponto a percepção discriminatória, preconceituosa, mística e sobrenatural que se tem da religião. Os cursos livres, técnicos e profissionalizantes de outras áreas, que muitos terreiros realizam, com intuito de promover a inclusão social, a formação da cidadania e colaborar com a educação dos seus e do público em seu entorno são válidos e devem ser cada vez mais apoiados.
Na minha opinião é um contra-senso ministrar cursos focados em determinados temas umbandistas internos, sem que o cursando, não consiga contextualizar esses ensinamentos específicos, por exemplo, através de uma vivência espiritual e na práxis religiosa. Quem conhece uma fatia, vê um pedaço, aprende apenas uma parte, não adquire a responsabilidade e os deveres que o contexto religioso no seu todo naturalmente lhe proporcionaria. A Umbanda não é uma religião de partes, pedaços e fragmentos ela é um todo, uma gnose completa em si mesma que somente quem a vivencia, pratica, e se engaja na sua lida diária pode conseguir a vir descortinar.
6) Fóruns de discussão - na internet, as listas são tribunas livres para manifestações as mais diversas possíveis. Encontra-se do leigo ao adepto das mais diversas religiões. Do novato a sacerdotes e dirigentes. Enfim, todas as crenças e seus cargos e funções hierárquicas, raças, classes sociais-econômicas, níveis de instrução, sexo e faixa etária. Pode ser aberta, fechada, sem restrição para postagem, com regras ou moderada. O objetivo é um só, promover o diálogo, a discussão e o debate sempre no campo das idéias o que às vezes é fato não acontece. Alguns abusam das diretrizes estabelecidas para a boa convivência nas listas e fazem promoção pessoal, do grupo ao qual pertence ou representa, outros desejam apenas tumultuar os debates e ainda aparecem, vez ou outra, aqueles que acreditam serem detentores da "verdade" absoluta, logo em condições de doutrinar sobre o que é e o que não é Umbanda.
7) Movimentos de inclusão social e cidadania - Muitos terreiros e instituições umbandistas têm-se dedicado as obras e ao trabalho de inclusão sociais das pessoas necessitadas das coletividades em que atuam. Seja na ajuda caritativa, beneficente, na geração de emprego e renda, da qualificação profissional, de oportunidade de lazer, assistência médica-odontológica e fomentando a educação, tanto escolar, como da cidadania e ambiental. Além de serem louváveis essas ações devem cada vez mais serem disseminadas e incorporada pelo movimento umbandista.
No cenário aqui exposto, o que é simples, natural e óbvio ululante na Umbanda e conseqüentemente na práxis de nossa religião, muitas vezes passa desapercebido ou eclipsado por esse conjunto multifacetado de instâncias que trafega o movimento umbandista. Eis o motivo que deixei os terreiros de Umbanda para o fim.
8) Terreiros - os terreiros de Umbanda, sejam eles denominados de casas, tendas, choupanas, centros, templos etc., são as células genitoras, os cadinho geradores, os laboratórios alquímicos onde se processam o insumo básico que proporcionará a consecução da obra planificada pela Corrente Astral Superior de Umbanda. Estamos falando dos trabalhos espirituais, do atendimento fraterno, da comunicação via mediunidade das entidades, enfim, da práxis religiosa por intermédio dos rituais, das liturgias e das linhas de transmissão (da raiz - princípio, origem, linhagem) que são próprias de cada terreiro.
Como vimos em artigo deste blog (Maslow, Buda e a Umbanda), "Abraham Maslow, psicólogo, consultor norte-americano, estudioso do campo das motivações, criou uma teoria segundo a qual as necessidades humanas estão organizadas e dispostas em níveis, numa hierarquia de importância e influenciação. Essa hierarquia de necessidades é representada e visualizada em uma pirâmide, em cuja base estão as necessidades mais baixas e no topo as mais elevadas. A necessidade fisiológica fica localizada na base e a necessidade de auto-realização no cume desta pirâmide".
"Consciente dessas necessidades e desejos do ser humano, a Umbanda inicia o seu contato pela base da pirâmide, sendo que, em todos os instantes o conjunto de suas soluções sempre possibilitam a antevisão ou a possibilidade de ascensão para os níveis superiores da hierarquia proposta na teoria de Maslow".
Esse é o papel primordial dos terreiros de umbanda, ser o espaço espiritual acolhedor, o lócus de contato da Umbanda com as consciências que atravessam os portais de seus templos. Nas giras dos terreiros em que se afinizam, o ser humano inicia um processo de enfrentamento e solução das suas necessidades do plano físico, as localizadas na base da pirâmide (vida material, emocional e psíquica), que com o passar do tempo atingem o nível da segurança (equilíbrio e harmonização), migrando posteriormente para conquista e apreensão de valores estáveis (espirituais, morais e éticos), que possibilitam a melhora de seus relacionamentos sociais. O passo seguinte é atingir o status quo de reconhecer o seu próprio valor (nível da estima) e dos outros, tornando-se consciente do seu posicionamento como umbandista e do seu papel responsável na coletividade na qual está inserido.
Percebe-se que esta ascensão possibilita se alcançar o topo da pirâmide proposta por Maslow, ou seja, a auto-realização. No caso do caminho umbandista isto significa a integração, o encontro consigo mesmo, proporcionado pelo exercício do auto-conhecimento. O religare proposto pela Umbanda encontra então seu objetivo, promover em toda a plenitude permitida ao nosso plano de evolução, o encontro com o Sagrado.
O que é simples, natural e óbvio ululante na Umbanda - as giras nos terreiros (existência e resultados) - na maioria das vezes, gerados sem alardes e em condições de extrema simplicidade e humildade, longe do "frisson" midiático, do fragor dos embates conceituais, da insistência em se determinar o que é e o que não é a religião, da desunião e intolerância produzido pelo enfrentamento de grupos e indivíduos em seu seio, incansavelmente e de forma heróica, cumpre a parte que lhe compete neste latifúndio. Álias, todo o resto deste latifúndio somente existe porque um dia aconteceu uma gira de Umbanda.
Ao encerrar mais este artigo lembro de uma estorinha que conta mais ou menos assim:
"O chefe de um setor industrial resolveu promover um dos seus funcionários para um cargo de extrema importância que tinha vagado. Como gostava de todos os seus cinco subordinados, resolveu que promoveria aquele que conseguisse solucionar o seguinte problema: Foi construída uma parede de tijolos com 5 portas. Ele pediu para cada um dos seus funcionários se coloca-se a frente de uma porta. O objetivo era abrir a porta, que estava a sua frente. Começada a disputa o primeiro deu um chute na porta e consegui abrí-la, o segundo baseado no primeiro, mas querendo ser diferente decidiu se jogar com o corpo na porta e também conseguiu abrí-la. O terceiro desistiu, já que imaginou todas as possibilidades sem encontrar nenhuma que fosse diferente das duas opções anteriores. O penúltimo candidato pegou as ferramentas adequadas, retirou os pinos da porta e igual aos dois primeiros abriu a porta.
Chegou a vez do último candidato. Ele simplesmente caminhou até a porta, girou o trinco e a porta se abriu. Sendo aclamado de imediato pelo Chefe, como o vencedor da disputa".
Moral da história e o que ela tem a ver com a Umbanda deixou para os leitores refletirem, afinal um dos principais pontos tratados neste artigo foi o óbvio ululante.
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