Todos os macacos num galho só!

Soube, por amigos que compareceram a Festa de Yemanjá, ontem (dia 15), que alguns discursos proferidos por dirigentes umbandistas, no palanque armado na Praia do Futuro, aqui em Fortaleza no Ceará, insistiam no chamamento para que todos os Pais/Mães-de-Santo, que estivessem ali sem os seus terreiros, não fizessem isto, que comparecessem no próximo ano, que não deixassem seus filhos-de-santo escondidos em seus terreiros, que viessem compartilhar da festa e não permitissem que este espaço tão duramente conquistado acabasse.
Me chamou a atenção, em particular, um dos argumentos utilizados nesta convocação: que os dirigentes de terreiro não temessem, mas que não havia perigo de outros Pais/Mães-de-Santo tomarem os seus filhos para si.
Interessante perceber, que em pleno séc. XXI, no âmbito de uma religião que teve o seu início oficial no príncipio do século passado, ainda persiste este tipo de mentalidade, medo e receio por parte de alguns dirigentes.
A questão de que filhos-de-santo, ao começar a frequentar outra casa, deixem a sua ou, que seja convencido a fazer isto, pelo dirigente da casa que está visitando é uma realidade que ainda perdura na mente de Pais/Mães-de-Santo.
Este tipo de coisa acontece em primeiro lugar, gerado pelo sentimento de posse, que Pais/Mães-de-Santo tem para com os seus filhos-de-fé.
Alguns dirigentes, sempre esquecem ou não gostam de se lembrar nunca, que a relação deles com seus filhos-de-santo, são de orientadores, facilitadores e educadores. Desta feita é uma relação idêntica a que um professor tem com seu aluno, sendo que no caso da Umbanda é relativo a evolução espiritual e o Pai/Mãe-de-Santo pode ser um mestre para toda a vida.
Outro fator que contribui, para que situações distorcidas como esta, ainda existam no seio umbandista é o despeito e a inimizade que dirigentes cultivam um dos outros e a concorrência, que realizam entre si.
Tudo acaba sendo fruto do que chamei, em outro artigo, de Genitocracia espiritual e o poder genitocrático atuante.
Movidos constantemente, pela inveja, orgulho e vaidade, estes dirigentes enxergam nos seus pares, inimigos e nos seus filhos-de-santo objetos de posse exclusiva.
Comumente tomamos conhecimento de proibições a filhos-de-santo de frequentarem outros terreiros, insatisfações e revoltas quando sabem que um filho esteve presente a giras em outras casas etc.
No popular, costuma-se dizer que "cada macaco no seu galho"! No caso que estou expondo, significa cada filho-de-santo com o seu Pai/Mãe-de-Santo e no terreiro que ele pertence.
O movimento umbandista é o único círculo religioso, até onde eu saiba, que ocorre este tipo de coisa. Nas grandes religões mundiais, Catolicismo, Protestantismo, Judaísmo, Budismo e Islamismo, se você é um adepto, tem livre acesso a qualquer igreja, templo, sinagoga ou mesquita no mundo. Até mesmo fraternidades privativas como por exemplo a Maçonaria e a Rosacruz, que poderiam exigir e cobrar este tipo de posicionamento aos seus adeptos, não o fazem, liberando-os para frequentar a Loja que melhor lhes convier.
A Umbanda, dentro do seu objetivo de prover o encontro de todos, que batem a sua porta, com o Sagrado, ensinando a prática do bem, do amor e da caridade, tendo como ferramenta o uso da fé de forma racional, crítica e responsável, para promover a evolução planetária, não prega a desunião entre terreiros e a apropriação de filhos-de-santo pelos seus genitores espirituais.
Se a concretização dos sítios vibratórios de energia na nossa religião é a natureza de Deus, ela estando em toda a parte do mundo, como de fato está, significa que a Umbanda é uma religião planetária e não circunscrita apenas as quatro paredes de um terreiro ou aprisionada pelas mãos daqueles que não sabem cumprir os seus papéis nesta Obra Divina.
Todo adepto umbandista é livre e consegue criar esta comunhão com o Sagrado em qualquer tempo e local, basta para isto estar imbuído de bons propósitos.
A Umbanda nos convida diariamente a lembrarmos que todos, sem exceção, somos filhos de um único Deus-Pai, somos todos irmãos-de-fé e por isso nunca seremos donos de alguma coisa ou de ninguém e, sim merecedores constantes da Misericórdia Divina.
No popular, mais uma vez, a Umbanda deseja que aprendamos, de uma vez por todas, que: "todos os macacos estão num galho só".

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